Encontro inaugura ciclo formativo do Incentivarte e fortalece a coletividade entre residentes
- Incentivarte

- 15 de set.
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O Incentivarte inaugurou seu novo percurso formativo com um encontro conduzido pela artista Dudude, reunindo os bolsistas para um dia de escuta, presença e partilha que definiu o tom da residência. A proposta foi operar o encontro como laboratório: abrir espaço para que cada participante se reconhecesse no coletivo, trocasse referências e experimentasse modos de criação em comum, sem didatismo, mas com rigor no cuidado, na atenção e na convivência.
Dudude é artista da dança, coreógrafa e educadora, referência da dança contemporânea no Brasil, com trajetória iniciada em Belo Horizonte. Sua pesquisa articula improvisação, poéticas da presença, escrita de cena e escuta do cotidiano, ativando o corpo como lugar de criação e pensamento. Há mais de três décadas, atua como criadora-intérprete, orientadora de processos e formadora, conduzindo laboratórios, oficinas e residências em diferentes contextos, sempre com foco na experiência coletiva, no cuidado e na autonomia criativa. Sua prática conecta saberes populares e experimentação contemporânea, promovendo encontros que transformam modos de ver, fazer e compartilhar a arte.
A atmosfera foi de aproximação e construção de confiança. Ao privilegiar a experiência coletiva como ponto de partida, o encontro delineou um terreno comum no qual linguagens diversas pudessem se tocar. Os bolsistas saíram com pistas de trabalho e, sobretudo, com um vocabulário compartilhado — a escuta como método, o cuidado como ética e o risco como motor criativo. Esse eixo de convivência artística também acena para desdobramentos profissionais, na medida em que as afinidades nascidas em sala tendem a se tornar colaborações futuras dentro e fora da residência.
A bolsista da área de artesanato, Natália Souza, resumiu bem o sentimento: "o encontro com Dudude Herrmann começou como aquele café da manhã com um amigo que não se via há algum tempo. Gostei da abordagem pois ela fez do encontro um momento que me ajudou a descomprimir da pressão do trabalho criativo. Além disso, a plasticidade dos movimentos da oficina me atravessaram de uma maneira nova e abriram janelas para novas ideias."
A curadora do Incentivarte, Lena Cunha, destacou que a escolha de começar pela vivência, e não por uma aula expositiva, faz parte do desenho do programa. “Com a integração artística entre os residentes, isso deu um encaminhamento do que seria a própria relação estabelecida entre os residentes daqui para frente, seja como uma relação profissional e artística. Tivemos vários residentes que fizeram esse comentário da importância que foi esse trabalho com a Dudude, como um primeiro encontro para estabelecer essa relação de coletividade dentro da residência.”
A condução de Dudude apostou em exercícios simples e potentes — atenção ao corpo, escuta do outro, jogos de presença e palavra — que acionaram a imaginação e deixaram à vista o que cada um traz como repertório. Sem buscar respostas prontas, a experiência abriu uma temporada de perguntas férteis: como partilhar métodos? Como acolher diferenças de trajetória e linguagem sem diluí-las? Que acordos coletivos são necessários para que cada processo floresça? Ao final, a sensação recorrente entre os participantes foi a de que o encontro inaugurou não apenas um ciclo de atividades, mas um pacto de convivência criativa.
Como primeiro passo de uma série temática, o encontro funcionou como chave de leitura do programa. Ele indicou que a residência valoriza tanto o processo quanto o resultado, mantendo o foco nas relações que sustentam o fazer artístico. O entendimento tácito construído ali — de que o comum é um lugar de pesquisa e não apenas de logística — tende a pautar as próximas etapas, nas quais o grupo deverá aprofundar conversas, testar procedimentos e consolidar redes de colaboração.
Também ficou evidente que a memória do percurso será parte do trabalho. Ao documentar falas, exercícios e aprendizados, os residentes produzem matéria crítica para avaliar, compartilhar e ampliar o impacto do que vivem juntos. Essa dimensão reflexiva — alinhada ao espírito do encontro — fortalece a residência como campo de formação e de criação, em que os vínculos não são efeito colateral, mas estrutura de sustentação.
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